segunda-feira, 4 de abril de 2011

Vai-se um ferrenho opositor da dinastia Sarney




Jackson Lago, 1934-2011

 

Morreu nesta segunda-feira, 4 abr., o médico Jackson Lago, ex-prefeito de São Luís e ex-governador do Estado do Maranhão.

Sua trajetória pessoal e política se estampa, neste momento, em todos os grandes veículos de comunicação de massa,
nos respectivos obituários, razão pela qual me sinto dispensado de aqui consigná-la, até porque, outrossim, não sou dela um profundo conhecedor.
 

Limito-me, neste contexto, a lembrar um triste episódio da recente história maranhense, de que Lago foi protagonista. Ou melhor, de que ele foi vítima.

Legitimamente eleito para o cargo de governador do Estado, e em pleno exercício da função, Jackson Lago foi destituído por um golpe orquestrado em favor de Roseana Sarney — representante naquele páreo político do clã chefiado pelo todo-poderoso homem da República 
, com o verniz de legalidade que lhe emprestou os sempre vergonhosos, venais e servis tribunais do Poder Judiciário.

Na ocasião, publiquei no
Blog do Braga da Rocha a nota que ora reproduzo, infra, a propósito do passamento dessa importante figura política do Maranhão, que viveu seus derradeiros dias a exercer o necessário, digno e nobre papel de principal opositor, naquelas plagas, da famigerada e odiosa dinastia Sarney. 


TSE, Jackson Lago e a oportunidade de crise institucional para uma necessária 'refundação' da República
Do noticiário político do fim de semana destaca-se a cassação do mandato do governador do Maranhão, Jackson Lago, pelo Tribunal Superior Eleitoral - TSE, seguida da decisão tomada por Lago — da qual, lamentavelmente, logo recuou — de resistir à decisão judicial com um expressivo gesto político: a recusa em deixar o Palácio dos Leões, sede do governo daquele Estado.
Tenho repetido a meus alunos e colegas do meio jurídico que o primeiro e inarredável compromisso de todo jurista e de todo cidadão deve ser com o chamado estado de direito, entendida esta expressão em sua acepção mais elementar, como aquele ambiente em que o ordenamento se põe e se aplica segundo regras e mecanismos institucionais preestabelecidos.
No caso Jackson Lago, todavia, devo confessar que me sinto algo frustrado e decepcionado pela decisão do governador de abandonar o palácio, em sinal de acatamento, ainda que a contragosto, de mais uma espúria decisão do TSE.
Sem discutir o mérito da causa, que desconheço em profundidade — mas que a todos os olhos isentos parece representar um autêntico coup d'état, revestido de aparência institucional, contra um governador legitimamente eleito —, deve-se lembrar que o TSE não passa de mais um entre os desmoralizados órgãos superiores do Poder Judiciário brasileiro, fonte de incontáveis decisões estapafúrdias movidas à corrupção do desregrado lobby, como aquela, no ano de 2004, relativa ao então governador Joaquim Roriz, do Distrito Federal, em ação proposta pelo Ministério Público com vistas à cassação de seu mandato.
Na ocasião, avive-se a memória do leitor, deixou o TSE de cassar o ilegítimo mandato obtido por aquele execrável político brasiliense, conquanto figurassem nos autos provas inequívocas de uso de recursos públicos em prol de sua reeleição — entre as quais fotografias de veículos alugados pelo governo distrital, a exibir e transportar material de campanha do candidato —, provas essas que a relatora do processo, ministra Ellen Gracie, acompanhada, entre outros, por Carlos Mário Veloso e Peçanha Martins, preferiram não considerar "suficientemente robustas" para demonstrar o ilícito eleitoral que autorizaria a cassação. Registre-se, no julgamento desse feito, memorável voto divergente do então presidente da Casa, ministro Sepúlveda Pertence, homem público de rara integridade, como já não se vê na cortes do País.
Desta feita, como aparentemente sopram em tal sentido os ventos políticos — não se olvide que a decisão favorece os interesses diretos do mais importante clã maranhense, uma vez que a segunda colocada no pleito é a senadora Roseana Sarney, prontamente empossada no cargo usurpado —, achou por bem o TSE legitimar um golpe contra o governador Jackson Lago e, com isso, acomodar tenebrosos interesses que, por óbvio, não se limitam às fronteiras do longínquo e inexpressivo Maranhão. 
Minha torcida pela resistência de Lago, até o limite do uso da força, se necessário fosse, representava, sim, a aposta em um conflito cujos reflexos bem se poderiam dilargar até o ponto de uma crise institucional de âmbito nacional que, a esta altura, me pareceria muito oportuna para uma necessária 'refundação' da República brasileira.
Infelizmente, apenas uma passageira quimera. Restou somente o golpe, consagrado pelo corrompido Judiciário e limitado, em seus efeitos mais evidentes e imediatos, ao governo de um mero coadjuvante estado da Federação.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários dos leitores são altamente bem-vindos, desde que versem sobre temas contidos na publicação e obedeçam a regras de civilidade e bom tom — vale dizer, não contenham grosserias, ofensas ou calão. Referências com 'links' para ambientes externos são livres, mas não se admitem atalhos para arquivos, paginas ou sítios eletrônicos que possam causar qualquer tipo de dano a equipamentos e sistemas eletrônicos. Em razão disso, os comentários são moderados e podem demorar um certo tempo a aparecer publicamente no Blog do Braga da Rocha.