quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Cacciola: R$ 1,5 bilhão por 47 meses de prisão — ou: No Brasil, o crime compensa


Encontra-se por ser libertado nesta quinta-feira, 25 ago., o banqueiro e especulador do mercado financeiro Salvatore Cacciola, após cumprir parcos 3 anos e 11 meses de pena privativa da liberdade — não sem antes ter ludibriado a polícia e escarnecido da justiça brasileira, ao fugir para a Itália enquanto respondia ao processo criminal —, a que foi condenado por gestão fraudulenta de instituição financeira e desvio de dinheiro público, em meio a uma mal explicada operação de socorro a bancos falidos praticada pela direção do Banco Central sob o governo Fernando Henrique Cardoso (o que parece novidade, pois a tríade PSDB/DEM/PIG insiste em tentar convencer a sociedade de que escândalos com malversação de dinheiro público foram inventados nos governos do PT de Lula e Dilma Rousseff)


O proveito havido por Cacciola em decorrência dos crimes financeiros que praticou, com a indiscutível leniência e provável conivência de dirigentes do Banco Central, é estimado em R$ 1,5 bilhão, a quase totalidade dos quais sangrada dos cofres públicos o que resulta, em uma conta simples, aproximadamente R$ 32 milhões por ano de prisão, ou ainda R$ 2,6 milhões ao mês. 

Considerando que não há notícia nem perspectiva concreta de recuperação desses ativos, Cacciola estará livre, a partir de hoje, para usufruir plena e tranqüilamente, dir-se-ia até mesmo 'rindo à toa', do extraordinário butim. 


Pudessem fazer uma escolha desse tipo, muitos dos cidadãos comuns simples e desgraçados mortais, que não privam da  intimidade com o poder nem têm recursos para sustentar advogados caríssimos — admitiriam sem pestanejar o trade-off de R$ 1,5 bilhão versus 47 meses de privação da liberdade. Até porque, em liberdade e limitadas a se dedicar exclusivamente a atividades lícitas e decentes, jamais conseguiriam auferir sequer enésima fração dessa bilionária fábula.


Pode haver mais eloqüente demonstração aritmética de que, neste país de direito e justiça débeis, burlescos e risíveis, o crime compensa?





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