quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Filho não é pra quem quer, mas pra quem pode; se é que há quem realmente possa...


Nos idos de 2008, a artista de múltiplos talentos Mônica Montone publicou no jornal O Globo — na esteira do sucesso de Sem Filhos: 40 razões para você não ter, polêmico best-seller de autoria da francesa Corinne Maier — o controverso artigo Filho é para quem pode, que reproduzo a seguir, como já fizera no velho Blog do Braga da Rocha.

Em seu texto, disponível também no sítio eletrônico da autora
, a jovem, bela e inteligente Mônica Montone aduz, com singular perspicácia, relevantes elementos ao raciocínio subjacente à minha costumeira perplexidade ante as comemorações alusivas ao dito 'dia das crianças':

Filho é para quem pode

Filho é para quem pode!

Eu, não posso! Apesar de ser biologicamente saudável.

Não posso porque desconheço o poço sem fundo das minhas vontades, porque às vezes sou meio dona da verdade e porque não acredito que um filho há de me resgatar daquilo que não entendo ou aceito em mim.

Acredito que a convivência é um exercício que nos eleva e nos torna melhores, mas, esperar que um filho reflita a imagem que sonhamos ter é no mínimo crueldade.

Não há garantias de amor eterno e o olhar de um filho não é um vestido de seda azul ou um terno com corte ideal. Gerar um fruto com o único intuito de ser perfumada por ele no futuro é praticamente assinar uma sentença de sal.

Filhos não são pílulas contra a monotonia, pílulas da salvação de uma vida vazia e sem sentido, pílula "trago seu marido de volta em 9 meses".

Penso que antes de cogitar a hipótese de engravidar, toda mulher deveria se perguntar: eu sou capaz de aceitar que apesar de dar a luz a um ser ele não será um pedaço de mim e portanto não deverá ser igual a mim? Eu sou capaz de me fazer feliz sem que alguém esteja ao meu lado? Eu sou capaz de abrir mão de determinadas coisas em minha vida sem depois cobrar? Eu sou capaz de dizer "não"? Eu quero, mesmo, ter um filho, ou simplesmente aprendi que é para isso que nascemos: para constituir uma família?

Muitas das pessoas que conheço estão neurotizadas por conta de suas relações com as mães. Em geral, são mães carentes que exigem afeto e demonstração de amor integral para se sentirem bem e, quando não recebem, martirizam os filhos com chantagens, críticas e cobranças.

As mães podem ser um céu de brigadeiro ou um inferno de sal. Elas podem adoçar a vida dos filhos ou transformar essas vidas numa batalha diária cheia de lágrimas, culpas e opressões.

Eu, por exemplo, não consigo ser um céu de brigadeiro nem para mim mesma, quiçá para uma pessoinha que vai me tirar o juízo madrugadas adentro e, honestamente, acho injusto coloc
ar uma criança no mundo já com essa missão no lombo: fazer a mamãe crescer.

Dar a luz a um bebê é fácil, difícil é ser mãe da própria vida e iluminar as próprias escuridões.

Filhos, com efeito, não são para aqueles que simplesmente querem, senão apenas para os que realmente podem — nos mais variados sentidos, saliente-se. Se é que há quem, efetivamente, possa.

Aliás, quem mesmo é que de fato quer?

Possivelmente, em especial, aqueles que não figuram, sequer minimamente, a real dimensão da ingente tarefa da paternidade, com suas elevadas exigências emocionais, intelectuais e materiais, e que muito menos têm — para seu conforto, no estado de alienação da realidade em que ordinariamente se vive — a consciência das misérias da existência.



 Mônica Montone, por Patrícia Landim ©



2 comentários:

  1. Adorei, Braga!
    beijos da Renata M. N.

    (Sorry, usei o comentário anônimo porque não consigo assinar usando minha conta do google - Sou panaca mesmo!)

    ResponderExcluir
  2. Ahhh... eu quis, tá?!
    bjs.
    Renata M. N.

    ResponderExcluir

Comentários dos leitores são altamente bem-vindos, desde que versem sobre temas contidos na publicação e obedeçam a regras de civilidade e bom tom — vale dizer, não contenham grosserias, ofensas ou calão. Referências com 'links' para ambientes externos são livres, mas não se admitem atalhos para arquivos, paginas ou sítios eletrônicos que possam causar qualquer tipo de dano a equipamentos e sistemas eletrônicos. Em razão disso, os comentários são moderados e podem demorar um certo tempo a aparecer publicamente no Blog do Braga da Rocha.