quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Direita e esquerda no cenário político-eleitoral brasileiro


Como sói acontecer em período de eleições, tornam à pauta discussões de natureza político-ideológica, como aquelas que remetem à oposição entre direita e esquerda no contexto político brasileiro.

Um dileto interlocutor, que me inspira não pouca admiração, em grupo de discussão de que participamos ambos, declarou cultivar "íntima e profunda aversão pela esquerda", aduzindo sua decidida preferência por aqueles que chama "os canalhas da direita". 

Não me furtei a consignar, em resposta, conforme reproduzo neste espaço, minha pessoal perspectiva, de resto compartilhada por não poucos, acerca da questão 'direita versus esquerda' no cenário político local contemporâneo.

No Brasil, infelizmente, o termo 'direita' converteu-se, ao longo do tempos — e talvez mais propriamente após a malfadada ditadura militar, vigente durante boa parte da segunda metade do séc. XX —, em autêntico palavrão na esfera política. Tanto é assim que homem público brasileiro algum costuma se declarar, franca e abertamente, como partidário das correntes ideológicas de direita. 

Para identificar aqueles que se situam à direita no espectro político, costuma-se recorrer a um hipócrita eufemismo, consistente no emprego do termo 'liberal' — embora, para horror do pensamento liberal, isso esteja a designar, não raro, precisamente aqueles que, aos brados de laissez faire! enquanto vivem sob o pálio do Estado, sustentados pelos mais diversos e pouco legítimos favores estatais. 

Assim é que entre os mais notórios integrantes das hostes de nossa direita envergonhada, supostamente liberal, encontram-se precisamente os maiores representantes do obscurantismo e do atraso, jamais comprometidos, registre-se adicionalmente, com a democracia ao longo da história do País — a exemplo de execráveis figuras tais como um José Sarney ou um Paulo Maluf, ambos ainda plenamente atuantes na vida política nacional. 

Em suma, conforme escreve um segundo colega no seguimento da mesma discussão a que me referi, "o problema da direita brasileira é que ela é coronelista, leia-se, pré-capitalista, leia-se, feudal. Vive nas tetas de um Estado que ainda é um Demiurgo, protegida por uma burocracia, em geral, intelectualmente caquética." 

É bem verdade que entre os quadros da direita contemporânea contam-se homens de significativa estatura política e moral — de que me permito tomar como exemplo o já vetusto Guilherme Afif Domingos, além, possivelmente, da saudável novidade representada por Eduardo Paes. Aliás, já participei de campanha do primeiro e ao certo consideraria, ao menos em tese, votar no segundo. Mas políticos com esse perfil estão a constituir a mais absoluta exceção no universo político, de modo geral, e nas fileiras da direita, em particular. 

Por isso, ao contrário do que declara meu dileto interlocutor, eu não voto nem tenho o desejo de votar na direita. Para dizer a verdade, na condição de alguém cuja formação sempre levou à crença em princípios e valores verdadeiramente liberais, sinto mesmo certa vergonha de já ter, em tempos idos, apoiado e sufragado nossa direita, forjada na 'vanguarda do atraso'.

Isso não quer dizer, porém, que necessariamente vote ou deseje votar na esquerda, por seus supostos méritos intrínsecos. 

No último decênio testemunhou-se a ascensão da esquerda, ou daquilo que até há pouco se podia considerar como tal no País, ao poder em âmbito nacional. Embora o predomínio da esquerda se tenha feito acompanhar de conquistas sociais e econômicas relevantes e incontestáveis, restou evidente — para o desencanto, aliás, de muitos — o quão grande parte dela se assemelha, tanto em práticas políticas espúrias quanto em comprometimento com interesses escusos, à velha e conhecida direita patrimonialista e corrupta.

E por essa razão aqueles outrora identificados com os segmentos da esquerda brasileira, hoje no poder, já não se mostram como alternativa desejável ou razoável à anosa direita.

À vista disso, devo confessar que minhas escolhas eleitorais se têm guiado muito mais por elementos como seriedade, honestidade, transparência, independência e compromissos éticos revelados pela trajetória pessoal e política dos candidatos que por siglas, ideologias ou programas partidários.

Infelizmente assim tem sido, e diferente não será nestas eleições de 2012, por mais que isso não represente um critério a se reputar digno de universalização — ao menos em um ambiente político amadurecido e saudável.









Um comentário:

  1. Não nego que me identifico com a direita à respeito da manutenção dos direitos da propriedade privada e da individualidade, da liberdade de expressão e do conservadorismo.

    Abriram muitas faculdades em nosso país mas... o publico universitário que (cada vez mais tolerante e menos questionador ) ja catequizado pelos professores, que, não estimulam o pensamento ou raciocínio, mas, insistem em achar que tem respostas, e são facilmente influenciados por qualquer comunista...

    http://bolsaignorancia.blogspot.com.br/

    @daltonmedina

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